Luiz Sôlha

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"Pintura Transcendental"
 
Luiz Sôlha é desenhista. Lança mão de complexa técnica de pintura para figurar minuciosamente pela tinta as idéias projetadas.
O artista trabalha ao mesmo tempo em tres ou quatro telas, cada qual com sua palheta, seu pano para limpar pincel e seus tubos de tinta.
Como numa batalha com muitas frontes, as dificuldades comuns entre os estágios de execução das obras são enfrentadas em paralelo, conforme a natureza cromática dos problemas.
Porém na mesa do ateliê, um mapa dos objetivos perseguidos coordena a tática pictórica. Nela Sôlha arranja as fotografias que lhe servem de referência, executando seus quadros por livre análise visual comparativa com elas, pois o artista pinta diretamente sobre o suporte branco, sem qualquer esquema gráfico preparatório. O ponto da finalização do trabalho é dado pelo sucesso em semelhar as imagens modelares com uma pintura lisa, construída demoradamente por velaturas sobrepostas.
A prática cotidiana do pintar tornou-se objeto de reflexão na série aqui reunida. As telas figuram montes de tinta à óleo espremidos de tubos e são coloridas com a mesma coisa figurada. A matéria-prima da pintura é tratada como modelo escultórico, registrado em imagens bidimensionais da câmara fotográfica. 
As composições resultantes nos quadros partem das fotos, enfatizando a óleo o brilho sensual da viscosidade untuosa da cor em pasta.
Cada quadro se intitula conforme o pigmento nomeado no rótulo da embalagem comercial das tintas pintadas: "Alizarin Crinson and White, Ivory Black, Cadmium-Barium Red Deep, Dioxazine Purple, Naples Yellow, Cerulean Blue".
As cores protagonistas mostran-se volumosas contrastando com o fundo abstrato e plano das manchas de palhetas. A textura de tintas já usadas e os rastros de pincel sobre os borrões secos aparecem em segundo plano. Como em cena trágica, vemos o personagem principal exibido momentos antes de um pintor imaginário esmagá-lo com seus instrumentos: reduzindo a lustrosa cor recém-espremida do tubo a empaste plano e gasto conforme a utilize o artista fictício, finalmente se igualará figura e fundo. Prevalece, porém, imagem do instante fugidio em que o óleo ainda é apenas o rico elemento em estado bruto, a pura possibilidade primitiva da pintura.

Felipe Chaimovich, Novembro de 2004.

A esta série de pinturas, que começou a pesquisar por volta do ano de 2001, Sôlha dá o título de “A TINTA PINTADA”.
Sôlha escolhe ampliar em sua pintura a forma escultórica que acontece quando espreme o tubo da tinta e a partir daí se defronta com a objetiva da câmera fotográfica em ângulos muito aproximados do objeto. Seus cliques só acontecem à luz do Sol, e captam as formas de cor em sua totalidade de sombra e contraluz, brilhos do óleo sobre a palheta de pintura, trazendo o universo particular do pintor à tona e o transformando em discurso visual.
A proximidade do espectador com a pintura na tela, traz uma realidade "estourada", enquanto que à uma certa distância da obra, essa realidade se mostra completa e quase fotográfica.
Luiz Sôlha encontra, assim, uma oportunidade para falar da origem das coisas, usando a tinta que serve de modelo e que será também usada depois na realização da pintura de seu próprio “retrato”.
Na sequência de sua pesquisa, Sôlha vem retratando produtos de beleza e asseio, como xampus, gel de cabelo, sabonetes líquidos, cremes, etc, por vezes também misturados com as tintas a óleo. Estes produtos coloridos são arranjados sobre um espelho que reflete o céu, e tal qual as tintas, eles oferecem imagens de curiosa freqüência vibracional, que nos remetem à infância ou aos bons aromas, mas estão nos mostrando também o quanto nosso mundo é industrializado e consumista.
Seu trabalho aponta para questões contemporâneas, e desde que se graduou em Licenciatura Plena em Educação Artística pela FAAP, em 1985, onde foi contemplado com o prêmio Bolsa de Estudos Integral, por dois anos consecutivos, pela sua participação nos salões anuais que aconteceram no Museu da FAAP, iniciou sua trajetória de exposições individuais e coletivas, participou de todos os salões de arte contemporânea, quando existiram, e hoje, tem trabalho no acervo do MAM (Museu de Arte Moderna de São Paulo), que pôde ser vista na grande exposição chamada “MAM NA OCA” em 2006, depois de ter participado do PANORAMA 2005 e no ano anterior, 2004, ter realizado exposição individual onde já apresentava esta nova série de pinturas intitulada "A TINTA PINTADA".


Ronaldo Mendonça , Abril de 2012.